Bafo de tigre
Jodorowsky. Maria Madalena. A polinização. Incas. Maias. Aztecas. Egípcios. Chineses. Leonardo, ah Leonardo : criava, pensava, planejava, concebia, estruturava – PMO era com ele mesmo. Leonardo também fazia cooperativismo, recebia encomendas, trabalhava urbanismo, fazia cenografia, etc. Creare o non creare : essa é a resposta. Para tudo, para todas e todos – quem não cria, quem não extrapola seu pensamento, não sobrevive.
Sobreviver é viver mais; salvar-se; redimir-se; sustentar-se.
Criatividade é um bem transversal, permeia quase tudo. Até vírus, infelizmente, usa a criatividade, seja para escolher onde morar, com quem morar, por que ficar onde não foi convidado a vir.
Vírus tem mutação, não é? Como os cientistas na maioria os classificam de “seres vivos“, eles usam inteligência e/ou energia de forma criativa; se o caso é da corrente minoritária, que assevera que os vírus não são seres vivos, apenas empreendem a jornada via uso de energia, etc, eu diria que, nesse caso, esses vírus são muito criativos: reciclam energia, fazem fotoconversão, caramba! Vírus são muito criativos!
Mas, muito mais que eles, tão criativos comos alguns gÊnios citados, temos os delirantes que sobrevivem no mundo afora. Não, não estou falando dos Elon Musk, dos Murdoch, nem do criativo Eike Batista, um X de criatividade. Falo do mundão, do mundano, do ordinário.
Brilhe. Permita que os outros brilhem. Cometa muitos erros de boas intenções. Aplauda desacertos e imperfeições.
Elogie mais os outros e a si mesmo. Brilhe.
Da criatividade extraordinária na vida e dia-a-dia.
Não é só a sobrevivência, é escapar da fome, do cansaço, do calor e do frio, escapar de dirigentes com aptidão a atrapalhar a vida de todos.
Fale-me da tua criatividade com o orçamento.
Conte-me do esconderijo da mesada que você converteu em alguma coisa deliciosa; e do escambo de coisas, começando por figurinhas (se no seu País não houver figurinhas, como o álbum de jogadores de futebol, meus sentimentos, sua infância poderia ter sido mais criativa!).
Ah, e as mulheres mães e donas-de-casa; aquelas mulheres, de Atenas (não resisti deixar de homenagear Chico Buarque e tantos que usaram a criatividade na sua Arte e contra a linda burrice dos censores com óculos escuros e bafo de tigre).
Por que mencionei bafo de tigre? Para que a figura a ser construída na cabeça de quem me lê identifique esses sujeitos como parasitas, deturpadores e tenham bafo de tigre! Use sua criatividade: alguém já deu beijo em tigre? Alguém já foi dentista de tigre? A narrativa ganhou cores com essa descrição. Graças à criatividade.
Alguns, como eu, usam a criatividade no seu dia-a-dia também para melhorar sua saúde mental: eu tenho depressão (deve ser leve, mas às vezes “ aperta” meu raciocínio). E sabem que, além de bons profissionais para te ajudar, porventura remédios ou alquimias naturais para te estabilizar, que junto com atividade física nada, nada, repito: nada faz tão bem para achatar a depressão et caterva como a criatividade?
Pois é, atribuem a muita gente criativa algum sintoma de saúde mental “com algum desequilíbrio”; não se sabe se a a pessoa mais criativa tem mais incorrência de depressão et altrem ou se a depressão induz a contra-medida físico-química de, passada a crise, promover uma onda de criatividade.
Criatividade também deve ter método: deve como o saudoso Francesc Petit, ou o Zaragoza, ou o Duailibi, patrões tão criativos que tive, produzir todos os dias. Com horários, regras, resiliência.
Petit, foi o maior incentivador que tive (e eu não tive intimidade suficiente com ele como gostaria porque o Tempo o levou para ser um reforço no Céu).
Petit mostrou-me seus desenhos e mascotes geniais; do Zé Carioca estilizado para a Varig que lhe rendeu um prêmio em dinheiro grande, salvo engano, em meados da década de 1950, a identidades visuais combinadas, como do Itaú, Sadia e seu franguinho, dos “dibujos“ para Barcelona, e de tantas coisas incríveis que me mostrou: “carteles “ dos tchecos, dos poloneses, expressionistas, Miró, designers incríveis, anúncios dos supermercadistas ingleses de luxo, carros das décadas de 30 e 40.
Discutíamos (lembrando que eu não tive muita intimidade, mas ele era assim com todo mundo que se propunha a ouvi-lo, com educação e querendo apreender coisas da vida linda que se pode viver) sobre caligrafia, fontes, até gravuras antigas, museus. Petit sempre perguntava: “que livro bacana você está lendo? Qual exposição você tem ido? Qual filme? Qual referência nova você escutou, viu, comeu?”
Então, eu aprendi que referência, junto com esforço, com gente bacana para te ajudar, com desprendimento, dá muito resultado: para sua cabeça, para o sentido da vida, para tanta censura com bafo-de-tigre-de-bengala-com-óculos-fumê, para tudo.
Creare. Sonhar, Colocar no chão, na linha, na tela, na panela, no passeio.
Permita-se, permita-me seduzi-lo com este convite: papilas gustativas evoluem com a idade, até o 5º sabor do umami aparece! Bora, ser mais solto, mais criativo, mais indignado, mais formidável. Nós merecemos. E de mais a mais, esta vida é uma só e ninguém quer ser só um número, caso tenha como nós, a felicidade de poder escolher.
Brilhe. Permita que os outros brilhem.
Cometa muitos erros de boas intenções. Aplauda desacertos e imperfeições. Elogie mais os outros e a si mesmo.
Brilhe.
Você nasceu para brilhar! Quem não nasceu foi aquele espermatozoide que perdeu a corrida para você.
Uhuuuuuu!