A saúde e a educação de amanhã
Uma das principais características da atualidade é a velocidade das transformações que ocorrem quase que cotidianamente em nossas vidas. Se olharmos para o nosso passado recente, veremos a quantidade de itens que hoje são indispensáveis em nossas vidas e que poucos anos atrás eram apenas temas de ciência-ficção. Computadores e toda a sua gama de serviços disponíveis, como correio eletrônico e transmissão em tempo real de voz e imagem pela internet, telefones celulares, apenas para citar poucos exemplos, só existiam em nossa imaginação e mesmo assim em momentos de alguma dose de delírio tecnológico. O mundo mudou muito e continua a mudar aceleradamente. Hoje em dia, imaginar como será o dia de amanhã é um exercício de alto risco, comparável ao de jogar na loteria.
Esse contexto em constante transformação coloca em xeque a questão de como melhor atender as nossas necessidades à luz do que imaginamos ser preciso no mundo de hoje. No Brasil, há muitos anos a aspiração mais enunciada da sociedade brasileira é a de tornar o país plenamente desenvolvido – em suma, um país do chamado Primeiro Mundo. Os desafios são muitos e cada vez mais complexos – o mundo de hoje é mais complexo do que no passado. Os próprios indicadores do desenvolvimento são hoje mais numerosos e, de certa forma, mais subjetivos para qualificar um país e compará-lo com os demais.
É fora de dúvida que uma população mais saudável tem melhores condições de se inserir na população economicamente ativa e contribuir mais decisivamente para a geração de riqueza
O que se percebe, sem dúvida, é que atualmente os pré-requisitos incluem temas aparentemente não ligados de forma direta à expansão das atividades econômicas, que são a base do crescimento da economia, da geração de riqueza e prosperidade. As discussões sobre o desenvolvimento abrangem hoje em dia a dimensão ambiental (que é essencial para assegurar a sustentabilidade do processo), a questão da distribuição da riqueza que vier a ser gerada (que tem a ver com a dimensão social), bem como outros aspectos que, percebe-se com clareza crescente, têm impactos positivos na busca da prosperidade.
Dentre esses aspectos, há que se ressaltar a saúde e a educação. Quanto à primeira, nem sempre é perceptível um vínculo claro entre saúde e desenvolvimento. É mais comum pensar que o desenvolvimento econômico gera prosperidade e meios para que haja mais acesso aos serviços de saúde e destarte se forme um círculo virtuoso entre desenvolvimento e saúde. É fora de dúvida que uma população mais saudável tem melhores condições de se inserir na população economicamente ativa e contribuir mais decisivamente para a geração de riqueza. Mas é preciso ter em mente que a saúde requer hoje pesados investimentos em conhecimentos e tecnologia, bem como uma capacitação cada vez mais complexa para médicos, dentistas, tecnólogos, enfermeiros e todos aqueles que de uma forma ou de outra têm a ver com a promoção da saúde.
Os desafios são variados: há que se promover a pesquisa científica voltado para a busca de cura de doenças ainda consideradas incuráveis; a pesquisa farmacológica para o desenvolvimento de medicamentos, sobretudo aqueles que possam estar ao alcance da população que tenha um menor poder aquisitivo; a pesquisa e o desenvolvimento de instrumentos e tecnologias que tenham como propósito a obtenção de diagnósticos confiáveis e o tratamento da doença.
É claro que esses desafios estão a requerer pesados investimentos, o que só seria viável se a economia dispusesse de uma formidável poupança amealhada, ou seja, fosse uma economia plenamente desenvolvida. No mundo de hoje, contudo, onde as cadeias e processos produtivos tendem a ser mais integrados (diz-se que o mundo é mais globalizado), a solução, na falta de massa crítica para seguir sozinho, parece ser a de se inserir da melhor maneira nessas cadeias e processos produtivos globais e poder aproveitar as oportunidades existentes.
A educação adquire o papel fundamental de preparar a mão-de-obra para participar de processos produtivos cada vez mais complexos e que exigem um nível crescente de conhecimentos e de escolaridade
Quanto à educação, o desafio parece mais evidente, na medida em que a atividade econômica, antes percebida como sendo essencialmente a combinação dos fatores de produção, particularmente capital e mão-de-obra, passou a requerer tecnologia e conhecimento. Em um mundo globalizado, como já dito, o desafio para integrar-se da melhor maneira possível nas cadeias produtivas internacionais é o da competitividade e da produtividade. A questão da produtividade da mão-de-obra passa a ter, portanto, um aspecto central para o desenvolvimento do país no mundo globalizado. E, nesse contexto, a educação adquire o papel fundamental de preparar a mão-de-obra para participar de processos produtivos cada vez mais complexos e que exigem um nível crescente de conhecimentos e de escolaridade.
Verifica-se, infelizmente, que no Brasil, a despeito de progressos obtidos nas últimas décadas em matéria de educação e saúde, ambas estão aquém das necessidades mínimas para habilitar o país a se desenvolver e ingressar, algum dia, no chamado Primeiro Mundo. O caminho a percorrer será provavelmente difícil e certamente não rápido. Mas se não conseguirmos melhorar significativamente a qualidade da saúde e da educação públicas a distância que nos separa do mundo desenvolvido será cada vez maior, o que certamente é incompatível com um país que aspira a ter mais voz nas questões da agenda internacional.