ANTES DA INOVAÇÃO, INVISTA EM CULTURA!
Há 6 anos minha rotina diária passou a girar em torno de startups, negócios inovadores, disruptivos, processos de transformação digital. Nas palestras sobre inovação que costumo fazer para o mundo coorporativo, sempre há executivos enlouquecidos por dicas e fórmulas de como transformar sua empresa em uma companhia mais inovadora, como se existisse uma bala de prata. Certa vez, ao final de uma palestra, ouvi de um deles a seguinte fala: “Meus funcionários não são inovadores. São pessoas capacitadas, inteligentes, mas que no fim do dia acabam fazendo as mesmas coisas que sempre fizemos”.
Esse é um sentimento bastante comum por onde passo e sempre que ouço queixas deste tipo, lembro-me do poema de Robert Frost “A Estrada Não Tomada”:
Duas estradas divergem em uma floresta, e eu opto pela menos percorrida. E isso fez toda a diferença.
É natural que ao nos depararmos com duas estradas, optemos por seguir pelo caminho mais conhecido, mais pavimentados, em busca da previsibilidade e da segurança. Seguir pela estrada menos conhecida, esburacada, nos força a mudar, nos força a sair da zona de conforto, e nem sempre estamos dispostos a realizar essas mudanças.
Da mesma forma funciona no mundo coorporativo e, nesse momento, é fundamental a atuação do líder como uma espécie de “arquiteto da inovação”, onde a sua principal tarefa NÃO É INOVAR! É ser responsável por criar um ambiente favorável e adotar práticas fundamentais para que a inovação se torne parte constante do trabalho de todos. Um líder de inovação não precisa necessariamente ser um inovador, o papel da liderança de inovação não se trata de protagonismo, de alcançar méritos próprios, mas sim de transformar seu time, sua equipe em inovadores.
Seguir pela estrada menos conhecida, esburacada, nos força a mudar, nos força a sair da zona de conforto, e nem sempre estamos dispostos a realizar essas mudanças.
Nos últimos anos vemos um esforço muito grande por parte das empresas em busca da inovação. Mas ao mesmo tempo grande parte desses esforços são concentrados no que chamo de “bolhas de brainstorming”. Ou seja, atividades isoladas, como por exemplo, convenções em hotéis luxuosos onde os funcionários são enviados para um ambiente “externo ao do escritório” para assistirem palestras de profissionais renomados, cases de sucesso, participarem de oficinas de criatividade e muitas outras atividades que compõem uma agenda de dois dias animados de muita inspiração e trocas de ideias. Não que isso não funcione, mas com certeza apenas isso não funcionará.
Após esses dois dias animados e revigorantes, se sua empresa não tiver estímulos diários eles voltarão para um ambiente em que nada mudou e, em algumas semanas, todos estarão fazendo praticamente as mesmas coisas que sempre fizeram. A inovação não deve ser praticada em eventos isolados. Muito pelo contrário, ela precisa ser praticada nos outros 363 dias do ano. A busca pela inovação deve compreendida como parte integrante do fluxo de trabalho diário e não como uma bolha.
Mas como tentar mudar esse direcionamento? O primeiro passo é atrair líderes transformadores para a sua empresa, que ajudem o seu pessoal a caminharem pelas estradas menos percorridas. Não apenas uma vez, mas como um padrão de comportamento diário. O segundo passo é entender que não se deve primeiro tentar mudar as pessoas que fazem parte da sua empresa, mas sim mudar o ambiente em que elas trabalham. E aqui não me refiro a móveis descolados e paredes coloridas, me refiro à CULTURA. A transformação que estamos vivendo hoje possui muita influência da cultura vista nas startups que valorizam muito a inovação e a eficiência digital como ferramenta para entrega de valor, o crescimento exponencial, as tomadas de decisões orientadas nos sentimentos e necessidades dos clientes e uma orientação de visão empresarial baseada no propósito. Sem uma cultura clara, estabelecida, bem comunicada e efetiva, sua empresa torna-se uma criatura com várias cabeças, cada uma falando algo diferente e olhando para diferentes direções. É papel da sua liderança transmitir essa cultura para toda a sua empresa, assim como a responsabilidade de dar o exemplo para que seja aplicado a todos. Como diz Rony Meisler, CEO da Reserva: “O conselho ajuda, mas o exemplo arrasta”. É o exemplo que transforma a cultura em prática, e não apenas em conversa.
Para os que estão no início da jornada devem estar se perguntando: E em que momento devo começar a criar uma cultura da minha empresa? Para mim, a partir do primeiro dia, muitas vezes até antes mesmo do CNPJ. E lembre-se que seus sócios e primeiros funcionários serão os primeiros a incorporar sua cultura. Portanto, atraia gente boa e as convença a investir o mais valioso ativo que elas possuem, o tempo.
Um líder de inovação não precisa necessariamente ser um inovador, o papel da liderança de inovação não se trata de protagonismo, de alcançar méritos próprios, mas sim de transformar seu time, sua equipe em inovadores.
Outro ponto que gostaria de destacar é sobre a importância do erro e dos seus aprendizados. Infelizmente, fomos educados em uma cultura onde o erro é algo negativo e temido por todos. As startups nos mostram que a cultura de testes e experimentação nos expõe ao risco do erro, mas este, desde que bem analisado, pode nos dar muitas respostas. Portanto, jamais estabeleça uma cultura de culpa dentro da sua empresa. Este tipo de atitude acaba por limitar as pessoas, gera medo e, provavelmente, será criada uma burocracia para cada erro. Opte por descentralizar, retirar do gestor a responsabilidade de tomar a maioria das decisões. Se você possui gente boa no seu time, distribua a responsabilidade e explore as capacidades técnicas, analíticas e provoque as capacidades criativas do seu time.